Livro: Anna Kariênina – Liev Tolstói

“Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira.” Assim começa, com essa afirmação infeliz e tão verdadeira, o clássico russo de Tolstói.

Anna Kariênina, de Liev Tolstói, começou a ser publicado na revista Ruskii Véstnik (em português: O Mensageiro Russo) entre 1873 a 1877. Porém por desentendimento do autor com o editor quanto a questões políticas, o final acabou não sendo publicado e Liev teve de publicar por outro meio. No ano seguinte, em 1878, a primeira edição integral do romance surgiu.

Dividido em oito partes o clássico russo narra a trágica história da condensa Anna Kariênina (também chamada de Anna Arcádievna). Sendo uma mulher bonita e esposa de uma grande personalidade do país, Aleksiei Aleksándrovitch Kariênin, do qual ela afirma ser um homem integro, mas um marido incapaz de sentimentos. Por esse frio matrimônio, ela acaba se sentindo atraída pelo jovem conde Aleksiei (Aliocha) Kirílovitch (Kirílitch) Vrónski.

Entretanto, uma das grandes obras de Tolstói, não fala somente de adultério e da diferença gritante da punição social para homens e mulheres, sendo a mulher a mais prejudicada. Acrescentando riqueza ao romance, o autor apresenta histórias de outros núcleos familiares que estão ligados à personagem-título, como Konstantin (Kóstia) Dmítrich Liévin, um rico proprietário de terras que sente dificuldade em administrar seu patrimônio, seu eventual casamento e sua luta interna em questões de fé; da princesa Iekatierina (Katierina, Kátia, Kátienka) Aleksándrovna Cherbátskaia (também chamada de Kitty); assim como de Dária (Dáchenka, Dólienka) Aleksándrovna (também chamada de Dolly) que é irmã de Kitty e esposa de Stiepan; Stiepan Arcáditch Oblónski, irmão de Anna, que trai Dolly com a preceptora de seus filhos; e entre outros personagens de maior ou menor importância.

Retrato de uma jovem senhora (a chamada Anna Kariênina), de Aleksei Mikhailovich Kolesov, 1885, Museu Nacional de Varsóvia, Polônia.

Por sua considerável quantidade de páginas, Anna Kariênina explora uma gama de tópicos da Rússia do final do século XIX, que incluem o panorama do sistema agrário (com os mujiques (camponeses) sujeitos a um senhor), das grandes cidades (Moscou e São Petersburgo), a política do regime monárquico czarista, a fé cristã ortodoxa, a moralidade, o gênero e claro a vida domestica e social da classe dominante.

Por sua riqueza de elementos, foi curioso perambular pela decadente, atrasada, burocrática, falida (econômica e socialmente) da Rússia Czarista através da obra de Tolstói. De adentrar no sistema majoritariamente agrário do país, o qual colabora para o atraso e impede mudanças estruturais à sociedade, como a Reforma Agrária; e também da elite vira-lata superficial, bisbilhoteira, hipócrita e subserviente as potências inglesa e francesa. Características essas que lembram bastante o Brasil, com seus latifúndios e uma elite escória subserviente (*convenhamos que atualmente a entreguista elite nacional em nada mudou. Continua atrasando o desenvolvimento do nosso país*).

Retrato de Liev Tolstói como um lavrador em um campo, de Ilya Repin, 1887, Galeria Estatal Tretyakov, Moscou, Rússia.

No entanto me impressionou como todos os personagens são trabalhados em cada pormenor de sua personalidade; inclusive os personagens secundários são também bem estudados. Tolstói revela suas qualidades e defeitos, nunca os fazendo de ícones, mas seres de carne. Esse cuidado quanto às características consegue nos mergulhar com veemência em suas almas. Por isso mesmo as julgando eu não consegui sentir nenhuma antipatia por nenhuma personagem. A revelação do íntimo me fez compreender as incertezas, os sacrifícios e os medos de cada um. Sem dúvida um dos destaques mais fenomenais de Anna Kariênina é como Liev Tolstói constrói o íntimo das personagens.

Minha passagem favorita do romance foi sem dúvida a cena da declaração codificada entre Liévin e Kitty. Um momento de infinita delicadeza e o mais interessante seu teor autobiográfico. Já o momento que me impressionou foi à descrição da fatalidade de Anna Arcádievna (*dá para sentir toda a tristeza e extrema angústia da personagem em seus momentos finais*). Quanto aos personagens favoritos, criei uma simpatia por Dolly e Aleksiei Kariênin.

Nem simples e nem complicado, o estilo de escrita de Liev Tolstói apresenta um ritmo que exala força e grandeza. Suas descrições das maneiras, da vida desocupada da elite, do trabalho árduo dos camponeses, das preocupações com a alma e com a vida, do peso das convenções sociais… Liev nos oferece distintas pinturas da Rússia Czarista.

A leitura de Anna Kariênina foi realizada com uma querida amiga. Compartilhar essa leitura com a Raquel me trouxe conversas enriquecedoras (^_^). Além disso, como minha leitura foi feita totalmente pelo livro físico notei que meus braços ficaram torneados (*seja fitness lendo calhamaço, hahaha*). Enfim, nesta edição da Cosac & Naify tem um texto muito bom do Rubens Figueiredo, chamado Duas Famílias em Uma Só. Também inclui uma árvore genealógica, Lista de Personagens (*que me ajudou bastante*), uma minibiografia Sobre o Autor, Sugestões de Leitura e por fim uma pequena lista das obras publicadas de Tolstói na falecida Editora Cosac & Naify.

Anna Kariênina, de Liev Tolstói, é um romance merecedor do título de obra-prima. A primeira vista, pelo seu tamanho, o livro parece assustador, mas o fato é que a narrativa fascina pela sua altíssima qualidade literária. Este grande clássico russo me conquistou completamente (♥\*-*/♥).

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Título: Anna Kariênina
Título original: Anna Karenina, Анна Каренина
Autor: Liev Tolstói
Tradução: Rubens Figueiredo
Editora: Cosac & Naify
Páginas: 816
Ano: 2011

7 respostas em “Livro: Anna Kariênina – Liev Tolstói

    • Igualzinho ao Brasil. São impressionantes as semelhanças nas descrições do romance (O_O).
      Maravilhosa a arte do russo Aleksei M. Kolesov (*-*). Nem foto fica tão perfeita.
      Beijos!

  1. Mais uma maravilhosa e enriquecedora resenha Luciana! Foi muito bom a nossa leitura juntas, como sempre. Esse clássico impressionante com certeza me cativou tb!

    • Obrigada, Raquel! (^_^) Afinal nossa leitura conjunta e discussão ajudaram no textão (^_~). Um romance realmente impressionante que merece com toda a certeza o titulo de clássico (*-*). Beijos!

  2. Um clássico da literatura russa realmente. Um exemplo do realismo literário que consegue de fato expor as características da sociedade da época. Parabéns pela publicação. Abraços!!

    • Com certeza. O realismo na obra é impressionante. Tolstói fez um trabalho primoroso do retrato da elite russa (*-*). Obrigada (^_^). Fico feliz que tenha gostado. Abraço, Pedro!

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